segunda-feira, 1 de março de 2010

O legado esportivo do Tio Guarani

Há uma semana faleceu Luiz Cleve Teixeira, o Tio Guarani. Noticiamos o fato na Rede Sul de Notícias e eu pretendia escrever uma matéria para a Tribuna sobre o legado esportivo dele - o tema foi escolhido de acordo com minha, digamos, "afinidade editorial". No entanto, a falta de espaço - a Tribuna tem circulado com oito páginas desde janeiro - e de tempo impediu qualquer iniciativa nesse sentido, embora seja importante destacar que o repórter Júlio Stanczik tenha produzido um texto onde o ex-jogador e técnico, Dirceu Pato, comentava a morte de Teixeira.

Com essas limitações, ficam registradas aqui algumas considerações sobre o falecimento de Guarani. Moro há seis anos em Guarapuava e nunca cheguei a ter contato pessoal com ele. Minha maior aproximação com Teixeira foi através da minha pesquisa, produzida como trabalho de conclusão de curso para História, e iniciada em 2008.

Sempre destacando a necessidade de pensarmos as rivalidades do futebol enquanto fenômenos sociais, escolhi como objeto de estudo o clássico do futebol amador de Guarapuava "Gre-Gua", que colocava frente à frente Grêmio Esportivo do Oeste e Guarapuava Esporte Clube. A partir da definição do tema, ao tomar conhecido do papel desempenhado por Guarani através da obra memorialista "Reminiscências do Passado", de autoria dele próprio, Teixeira logo surgiu como primeiro nome a ser entrevistado. Mas a devido ao percurso da pesquisa e a escolha de outro tipo de fonte, os jornais impressos, como prioritária, não cheguei a ter contato com Guarani.

Mas foi justamente durante a pesquisa que a figura dele se sobressaiu. Primeiro como atleta - Teixeira era meio-campo - ligado ao Guarapuava, na década de 1930, e depois como dirigente, responsável pela reativação do clube em Guarapuava em 1940 - um ano antes Guarani havia participado da fundação do São Cristóvão. O retorno do Guarapuava foi um importante passo para tirar o futebol local dos ostracismo vivido na década de 1930, quando os clubes foram encerrando as atividades um por um.

Também foi a reativação do Guarapuava que permitiu o surgimento do "Gre-Gua" - uma dissidência do alvi-negro fundou o Grêmio em 1945. Tendo a rivalidade como um dos combustíveis - utilizado, inclusive, pela imprensa, que logo apelidou o confronto de "clássico dos clássicos" - o futebol em Guarapuava experimentou na década de 1950 um progresso nunca visto no local. Se organizou uma liga municipal e os campeonatos passaram a ocorrer com certa regularidade, recebendo atenção da imprensa local através de publicações como a "Folha do Oeste".

Na crônica esportiva, em ascensão na época, Teixeira atuou como redator da coluna "Sete Dias nos Esportes", publicada na "Folha do Oeste", e na Rádio Difusora AM com o progrma "Mundo Esportivo". Na área Guarani se destacou pelo longetividade: comentou as participações de Grêmio e Batel na elite estadual nas décadas de 1970 e 1980 e atuou como cronista esportivo do jornal "Esquema Oeste" até meados da década de 1990.

Voltando ainda ao "Gre-Gua", após colaborar durante anos com o "Lobo Solitário", Teixeira chegou a ser técnico e comandar as categorias de base do Grêmio, hexacampeão municipal na década de 1950. Ao trocar um rival pelo outro, Guarani rompeu, de certa forma, com a dicotomia verificada entre Grêmio e Guarapuava, que opunha o moderno e a elite ascendente contra o tradicional e a elite campeira.

Por fim, Teixeira atuou como organizador de escolhinhas de futebol, incentivando o surgimento de novos talentos, entre eles, o próprio Dirceu Pato.

Minha última tentativa de contato com Guarani foi em dezembro de 2009, quando preparávamos a edição especial de aniversário de Guarapuava. Já bastante doente, Teixeira não pode nos atender. Três meses depois ele faleceu, aos 92 anos.

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